quinta-feira, 3 de julho de 2014

ODONTOLOGIA E SAÚDE MENTAL


A cirurgiã-dentista Danielle Ramos fala sobre o cuidado odontológico para os pacientes com transtorno mental.


 

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), as doenças e transtornos mentais afetam mais de 400 milhões de pessoas em todo mundo. No Brasil, a estimativa é de que 23 milhões de pessoas passem por tais problemas. O atendimento às pessoas com transtornos mentais no Brasil, por décadas, esteve centrado no hospital, por meio de internações prolongadas, mantendo o paciente afastado de seu âmbito familiar e social.

A partir de 1970, com a Reforma Psiquiátrica, ficou claro que a proposta do cuidar é muito mais ampla, assumindo o compromisso de reintegrar o sujeito à sociedade, resgatando a cidadania. As principais ações preconizadas pela Reforma Antimanicomial são: a diminuição progressiva dos leitos psiquiátricos e a criação dos Centros de Atenção Psicossocial - CAPS.

Os (CAPS) são serviços de saúde destinados a acolher os pacientes com transtornos mentais graves, apoiá-los em suas iniciativas de busca da autonomia e lhes oferecer acompanhamento multiprofissional. Sua característica principal é buscar integrá-los a um ambiente social, familiar e cultural, designado como seu "território", o espaço da cidade onde se desenvolve a vida cotidiana de usuários e familiares.

Tais iniciativas trouxeram à tona novas estratégias voltadas à reabilitação psicossocial de pessoas em sofrimento mental, propondo a valorização do cuidar e uma nova forma de pensar no processo saúde-doença. Nesse sentido, há necessidade de construção de redes de cuidado e um trabalho interdisciplinar para que o tratamento em saúde mental se dê de forma integral.

Falando em integralidade do cuidado, não podemos deixar de pensar na saúde bucal. Os pacientes com transtorno mental podem ser considerados como de alto risco para patologias bucais, principalmente para doença cárie e periodontal.

Estas alterações são resultados de uma associação de fatores, tais como: prejuízo nos hábitos de higiene bucal; danos psicomotores; dificuldades na coordenação motora para realização da higiene; diminuição do fluxo salivar, devido ao uso de medicamentos; e dificuldade de acesso aos serviços odontológicos.

A dificuldade de acesso aos serviços ocorreu em virtude do mito que os pacientes com transtorno mental são sempre agressivos e que não colaboram com a execução de procedimentos odontológicos. Com a mudança do modelo assistencial embasado em um tratamento humanizado e resgate da cidadania, o atendimento odontológico passou a fazer parte do cuidado integral. É importante ressaltar que o cirurgião-dentista deve contar com o apoio da equipe multiprofissional e conhecer as características e particularidades de cada caso.

Assim, a criação de ações preventivas em saúde bucal se torna de extrema importância, pois o cuidar de pessoas em sofrimento mental vai além de todo aparato técnico. É necessário entender suas singularidades, envolver os usuários e familiares, motivando-os a cuidar da higiene bucal, oferecendo um atendimento humanizado e acolhedor e estabelecendo uma relação de confiança e respeito.